Digo assim, porque entrando no facebook, vi um post da aluna de moda Cristina Alam em meu mural que falava de um artista que trabalha com botões e ao abrir o link indicado, me surpreendi. Continuando minha busca por informações, percebi que este homem pensa como artista, como design e como "profeta".
Em primeiro lugar para acabar com a curiosidade de vocês, vou apresentá-lo.
"Me pergunto se tudo isso refletiu na vida das pessoas, mas aí vai ser a minha opinião..., acho que tudo isso vai dar uma tese."
Hélio Leites
José Hélio Silveira Leite – 1951, Lapa, PR – Button-maker-peformer-graphic-designer-multimidia-man, significador de insignificâncias, anarquiteto do sonho. Artista plástico, artesão municipal, miniaturista e contador de histórias.
Mas acredito que estejam interessados em saber o que me surpreendeu, então após a breve apresentação do seu trabalho, me dedicarei a tentar explicar o que pensei sobre o seu processo criativo analisando a própria fala do artista em uma entrevista publicada no Jornal de Londrina.
TRISTEZA X ALEGRIA - TRISTEZA BOA X ALEGRIA CEGA
PENSAR X FAZER - IMAGINAR X FAZER - NÃO IMAGINAR X FAZER
NECESSIDADE X DENTRO DA GENTE
VAZIO X PREENCHIMENTO (ALRGRIA XTRISTEZA?)
Para ver mais trabalhos do artista apresentado por ele mesmo:
(IN)UNUTENSÍLIOS DE ARTE http://www.youtube.com/watch?v=C6nU-X2MFmM
(IN)UNUTENSÍLIOS DE ARTE http://www.youtube.com/watch?v=7JPKvR9KtZs
A virtualização de informações nos proporciona essa troca de ideias, de valores, de conceitos. No começo dessa reflexão disse que tinha ganhado um post sobre esse artista, e foi navegando que entrei em seu mundo, refletindo e ponderando sobre o processo criativo.
Quando identifiquei em Hélio Leites um artista, um designer e um profeta me referi ao contexto de sua obra que manifesta essa tríade em sentidos que se interligam e são indissociáveis. Se um deles falta os outros se desfalecem.
Artista
"No mundo, a gente vive procurando uma história para justificar o que está fazendo no mundo."
O artisata Helio Leites traduz em arte o que ouve no cotidiano tentando se comunicar com a humanidade. Uma tensão que o impele a criar através da história contada que se manifesta em objeto de arte.
Se lembrarmos da definição que Marcel Duchamp nos ofereceu, a mais límpida e irrepreensível definição de arte que até hoje podemos encontrar: ["Arte é aquilo que o artista diz que é arte."] E mais: ["Arte é o que a posteridade diz que é arte."] Identificamos o trabalho de Hélio Leites.
Ele diz que sua arte é fruto do não imaginar, mas do fazer. É da ordem do que está presente, do vivencial, do que é arte. Ainda sobre a posteridade da ate, hoje, seguindo esse raciocínio, podemos dizer que as posteridades, assim como os artistas, também têm as suas veleidades, os seus erros e os seus acertos e, portanto, nem sempre aquela arte que hoje é venerada e catalogada nos Museus, ou nas coleções, é arte de qualidade. Está aí a História imediata. Quanto a Hélio Leites precisamos aguardar, mas foi o crítico contemporâneo Paulo Leminski que tirou Hélio do anonimato, do excêntrico para a posição de artista. O artigo, Hélio Letes, significador de Insignificâncias, publicado em março de 1986, começa em tom de ensaio, sugerindo a intenção de explicar rapidamente o que é a arte deste século e os novos experimentos e atitudes conceituais, e segue, a descrever a proposta do artista, a sua gentileza, a sua rara sagacidade "zen" em ver e mostrar, já iluminado, o que mais ninguém percebe, com os seus ensaiados chistes e esforçados jogos de palavras... Enfim, Leminski termina o artigo desfraldando uma engraçada e irônica profecia: "Ontem, o botão. Hoje, o assobio. Amanhã, o mundo."
Antes, porém, de Leminski escrever sobre Hélio reconhecendo-o quanto artista, o próprio artista já sabia que o era, e o que tinha vindo fazer neste mundo.
Designer
"Sou formado em economia. Pode não parecer, mas eu sou. O que é que eu fiz? Economizei no tamanho. É a micro-economia. Tenho uma banca na feirinha de artesanato, no Largo da Ordem, em Curitiba. Chega uma família e o menino pergunta: “O que é isso?” Eu respondo: “É um inutensílio. Não serve pra nada, mas às vezes resolve problema que nem o médico consegue resolver!”. O que você faz com palito de sorvete? A criança responde: Jogo fora. Eu digo: “Joga fora e o idiota aqui vai lá fora buscar – para transformar em passarinho”. Aquele palito vira uma arara. O que salvou meu artesanato foi contar histórias. O palito de sorvete que virou arara vira um sinalizador de TPM. No dia em que a mulher vai ficar de TPM, ela mostra esse palito de sorvete modificado para avisar que ela está uma arara. Assim você dá a volta na brabeza dela.
Toda sua obra possui uma função, mesmo que esta esteja descolada do funcional santificado pela Bauhaus.
Me coloco agora no recorte funcional enquanto função do objeto. Um palito de picolé serve para que possamos segurar o tal picolé enquanto estamos consumindo, um desvio de função é quando por exemplo juntamos palitos de picolé para fazer uma fruteira colocando palito sobre palito em uma engenhosa pilha organizada. Mas fazer do palito uma arara para avisar uma TPM é mais do que alterar ou modificar a função objetual, é mudar conceito em dar uma função "inútil". Um (IN)UTENSÍLIO. Será que é tão inutensílio assim? Será que função a que se propõe tais objetos de repensar nosso cotidiano e nossas próprias funções é tão inútil? Isso foi o que mais me encantou e ainda estou refletindo sobre essa questão: um novo conceito de função para o mundo contemporâneo. Mas isso não nega que o objeto tenha ganhado função de uso, e para muitos homens uma "salvação", um alerta da TPM.
'Profeta'
"Passando por cima de um viaduto, na volta para casa, me deu um pigarro e eu cuspi no chão. Adivinha em cima de que eu cuspi? Pensando em desistir do botão – e acertei um cuspe no botão. O cuspe acabou de sair da boca da gente é a coisa mais nojenta que existe. Deus fez o cuspe para baixar a crista da gente; tanto é que botou embaixo da língua. Abaixei, limpei o botão e levei pra casa. Está comigo até hoje. Achei que aquilo era uma mensagem do além – era o botão querendo conversar comigo. Aquele botão ainda está comigo. Não sei onde, mas está."
Assim como Gentileza, Bispo do Rosário e outros, Hélio também ouviu a voz, o sinal para conversar com o mundo através de seus objetos.
“Não faço questão que as pessoas comprem meus trabalhos. Faço questão que elas saibam que eles existem”.
Aqui ele não estava falando de existência física, mas de existência no sentido do SER, como no cogito:"Penso logo sou" (existo) - Descartes. Neste caso, se torna imprescindível a existência de trabalhos proféticos, assim como os dele, para que nós duvidemos da vida que levamos. Isso se torna importante ao olhar de Hélio Leites.
A cada história contada em objetos uma pregação é ministrada. Assim surgiu a “Igreja da Salvação pela Graça”, Hélio movimenta diversos outros artistas para ações com humor. Na performática Igreja da Salvação – cujo slogan 'Deus é Umor' acompanha a ilustração de uma freira dando gargalhada –, junto com Kátia Horn e Carlos Careqa, cultua a alegria como modo possível para relações. Instalada no Teatro Universitário de Curitiba e realizada uma vez ao ano, a Igreja prega seus fiéis através de músicas e ritos de benção para os participantes “engraçados”. No início da apresentação uma procissão é invocada, deslocando toda a platéia para a parte externa do teatro e efetuando uma nova entrada no templo da graça. Um espetáculo em que o riso é a tônica, exigindo a participação do público nos improvisos dos artistas-propositores. A suposição máxima de que as pessoas não pensam iguais, mas se abotoam da mesma maneira, é prerrogativa motivadora das invenções de Hélio. Delineia-se, então, sua preocupação com a criação de pontes entre as pessoas, usando como artifício a transformação
de objetos em poesia.
"Às vezes, essas coisas são pequenininhas... E tudo que você jogar na humanidade, tudo que você jogar para o cosmos vira proposta. Meu objetivo, por exemplo, é pegar uma caixinha de fósforo e tentar consertar o mundo. Como é que a gente conserta o mundo com uma caixinha de fósforos vazia?
Você sonha dentro da caixinha de fósforos (...). A filosofia do meu negócio é essa: eu pego uma caixinha de fósforos, transformo ela numa peça e transformo em ponte. E a gente vai consertar o mundo quando a gente fizer ponte entre as pessoas. Às vezes, eu não sei o que elas vão fazer quando se juntarem, mas sempre que você separa duas pessoas você dobra o problema do mundo."
E o Processo Criativo?
Em primeiro lugar Hélio Leites se considera artesão.
"homem simples que trabalha
em espécie em extinção
no calor da sua batalha
trantorna migalha em pão."
Diz ele, que Paulo Leminski foi o que melhor o traduziu, até para si mesmo: "significador de insignificantes" e é destrinchando essa frase que gostaria de falar do seu processo criativo.
Hélio conta que o início de sua carreira se deu num momento da infância quando uma professora de Educação Artística na escola primária. De uma bola de barro ela fez surgir uma caneca. "ela pegou uma bola, tirou o miolo, enrolou e fez a alça, transformou em uma caneca". Hélio afirma que essa caneca permaneceu no armário de sua memória por 43 anos. Uma bola de barro sem valor, que virou caneca.
Depois de trabalhar 23 anos em um banco, ele percebeu aquela memória veio à tona. Um dia ele descobriu que fazia a mesma coisa que a professora fazia. Repetia a cena: eu pego uma caixa de fósforos e faço uma história.
Marcas da infância adormecidas acabaram de ser acordadas, assim como sua relação com o teatro (treatralidade).
Hélio nos propõe outro pensamento que é imprescindível no processo criativo: A TROCA.
"Naquele dia, fui a um bar que a gente freqüentava no Bexiga. Cheguei lá e fiquei me lastimando por não achar lugar para expor os botões. No bar, um cara disse: “Por que não faz a exposição em mim” – e esticou a camiseta. Pensei: “Se posso fazer a exposição nele, posso fazer em mim mesmo!” No dia seguinte comprei um pano numa loja, voltei para casa e fiz uma roupa com os botões pendurados. Às vezes a solução do seu problema está no seu vizinho. Se eu tivesse ficado quieto, jamais teria resolvido meu problema".
"Quando você tem um problema, se você contar para os outros, o problema se divide – e a solução vem junto. Quando comecei a mexer com caixinha de fósforo, resolvi fazer um bonequinho. Só que para abrir a boca desse bonequinho eu tinha que usar um fio... não ficava bom. Uma vez fui numa escola e um menino de 9 anos tinha uma caixinha que abria a boca sem fio. Aprendi a abrir a boca da minha caixinha com um piá de 9 anos. Quando a gente pensa que está ensinando, está aprendendo. É só baixar a crista."
Sabemos que a troca é o elemento fundamental no processo criativo, é é por uma troca dessas que estou aqui escrevendo pra vocês. Troquem ideias, pensamentos e sonhos... o olhar diferenciado resolve muitas vezes o que seríamos incapazes de solucionar.Hélio é uma fonte inesgotável de pesquisas, considero que estou começando a paralelar seu processo com o conceito de criatividade. Aguardem novos textos.
em 1989, na feira do largo da ordem o Helio filmou um louco medindo com uma fita métrica a barriga da minha mulher, lá dentro estava o Iommi, faz tempo isso, será que existe esse vídeo, quero muito mostrar pra ele, ele também quer ver, muito massa, meu e-mail marcelomartinspssm418@gmail, vai ser muito massa rever.
ResponderExcluirbjs
Passei bom tempo do ultimo domingo, ouvindo suas maravilhosas conclusoes a respeito da vida...Gostei msesmo demais, e vou voltar!! parabens Mestre!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO conheci pessoalmente. Além de criativo e espirituoso, gente do bem.
ResponderExcluir