terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

COLAGEM


Segundo Luiz Renato Martins, professor do departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em seu artigo Colagem: investigações em torno de uma técnica moderna :
A colagem foi desenvolvida por Braque e Picasso em torno de 1911, no final da primeira fase do cubismo, dita "analítica". Ela é justamente considerada como um dos achados mais relevantes da arte moderna e como um elemento central do cubismo...Ao implicar materiais e elementos não estritamente pictóricos como papel-jornal, areia, linhas etc., a colagem romperia com o primado da interação simbiótica entre o ótico e o mental, que vinha se afirmando desde o início do modernismo como essencial na pintura.
Giulio Carlo Argan diz que o plano torna-se suporte, realidade física, superfície:
"Adquire, como entidade plástica, a força de atrair e integrar fragmentos da realidade externa, por exemplo pedaços de jornal, de papelão, de madeira. A técnica da colagem, que quer demonstrar como a obra de arte vive uma existência própria e não mais reflexa...a colagem permanece como uma das técnicas fundamentais da arte moderna, mesmo depois do cubismo e independentemente dele" (MARTINS, apud Argan).
Vitor Rezkallah Iwassoem seu artigo Copy/paste: algumas considerações sobre a colagem na produção artística contemporânea nos diz:
É ponto pacífico, qualquer seja a linha de análise proposta, decretar a "invenção"; da colagem na primeira década do século passado como um passo fundamental na história da arte do ocidente. Ação catalisadora de uma infinidade de outras pesquisas que, servindo a propósitos diversos, permearia a vanguarda moderna.Produto de seu tempo, as experiências com a colagem, então, refletiam uma nova subjetividade, em diálogo direto com as mudanças culturais e epistemológicas trazidas pelo avanço da incipiente sociedade industrial, onde termos como "velocidade", "aceleração" e "fluxo" eram redefinidos. 
E complementa:
O desenvolvimento da colagem como processo artístico estabelece, portanto, desde sua origem, um vínculo estreito com o universo industrial, e de modo mais profundo, com o segmento deste responsável pela produção de informação visual: as artes gráficas. Matéria-prima fundamental, a imagem impressa, nos diferentes veículos em circulação, formaria um grande conjunto de formas prontas - material abundante e, muitas vezes descartável - sujeitas à apropriação. Por extensão, o contínuo aprimoramento das técnicas de produzir imagem não só aumentaria a variedade e quantidade do material impresso disponível, como iria, por outro lado, conferir aos artistas novas ferramentas de trabalho. Como veremos, o lastro na tecnologia será definidor na orientação das possibilidades e dos significados da colagem no decorrer do século.
Os surrealistas adotaram procedimentos vinculados ao conceito de “livre associação”, da psicanálise freudiana, e usaram a colagem também de maneira diferenciada. Para representar na técnica a própria transgressão e revolução sugerida pelo modernismo, tentavam estabelecer relações entre elementos que nunca estariam juntos na natureza ou na realidade cotidiana, mas que produziam sentidos, a exemplo do que acontece nos sonhos.

JEAN ARP: O JOGO DO ACASO
Em sua obra, Arp (1887 -1966) explorou o irracional. Descobriu o princípio da colagem livre por, acaso, quando rasgou um desenho e jogou os pedaços no chão. Admirando o padrão aleatório formado pelos pedaços de papel, Arp começou a fazer colagens "casuais". "Declaramos que tudo o que vem a ser ou que é feito pelo homem é arte", disse Arp. Ele fazia experiências seguidamente para desenvolver novas formas, e características típicas de sua obra são as formas lúdicas ovais, que sugerem criaturas vivas. Arp declarou que seu objetivo era "ensinar ao homem o que ele esqueceu: sonhar de olhos abertos". 

No processo de colagem, duas ações são fundamentais: primeiro, a fragmentação e, depois, a junção desses fragmentos. Ambos os procedimentos serão fartamente desenvolvidos no decorrer do século XX a partir dos desdobramentos tecnológicos, com distintas orientações, possibilidades e significados. 

POP ART
Essas influências e contaminações mútuas entre técnica/tecnologia e obra de arte cresceram ao longo do século XX, sobretudo no pós 2ª guerra mundial, com a popularização da serigrafia, da televisão e das máquinas fotocopiadoras, dentre vários outros mecanismos de produção e reprodução técnica.
Paolozzi usou para a palavra "pop" apontam para o fascínio pela pop art entre os jovens e deslocados, a cultura popular, o sexo fortuito e os meios de comunicação de massa. Paolozzi identificou o poder da celebridade, das mercadorias de marca e da publicidade numa nova era de consumismo. A cultura norte-americana seria o tema predominante da pop art.

Em 1947, Eduardo Paolozzi, foi a Paris perseguir seu sonho de ser artista. Foi nesse ano que produziu Eu era o brinquedo de um ricaço (1947): uma colagem feita de imagens de revista de papel brilhoso.


Em 1956, Richard Hamilton concebe a colagem O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (Figura 4) que se tornou representativa por estabelecer vários dos temas dominantes da arte pop. 
O tom crítico dessas obras está, em boa medida, no mecanismo de estranhamento efetivado pela colagem: ao combinar elementos do cotidiano aparentemente dispersos ou de óbvio sentido utilitário com situações inusitadas e, por isso, provocativas. Não que a sociedade da época não soubesse de sua própria dinâmica de consumo; porém, ao escancará-la pelo efeito de estranhamento das novas relações propiciadas pela colagem, o pop mobilizava o choque e a reflexão sobre o próprio cotidiano permeado e definido por um imediatismo cada vez mais agudo. 

O que exatamente torna os lares de hoje tão  diferentes, tão atraentes? (1956)
SCHWITTERS: UMA QUESTÃO DE MERZ
O colagista alemão Kurt Schwitters (1887-1948) também subverteu os conceitos estabelecidos. Diante da pergunta "O que é arte?", ele respondeu: "O que não é ? " Schwitters percorria as ruas de Hanover pesquisando as sarjetas em busca de coisas caídas, como passagens de ônibus, botões e tiras de papel e colava esses materiais em combinações que ele chamava merz. 
Quadrados sobrepostos e retângulos de papel matizado e texturado, recortes de jornal e outros materiais são combinados de molde a produzir composições dinâmicas. Merz foi um termo que artista alemão Schwitters aplicou à sua arte a partir dos anos 20 do século passado.
Merz era um termo sem sentido, retirado ao acaso de um jornal, que se tornou a divertida marca do artista, a qual ele traduziu por liberdade. As primeiras colagens de Schwitters, datadas de 1918, conduziram à paixão pela recolha de lixo - bilhetes de autocarro, rolhas, sapatos gastos - para criar "a arte a partir da não-arte".
MERZ 1920

MERZ 1920

MERZ 1937

JOHN HEARTFIELD 
Foi um dos dadaístas mais importantes da história. Por meio da colagem, conseguiu carregar de emoção e mensagem suas imagens de uma maneira pouco vista até então.
Foi membro do grupo dadaísta alemão e aperfeiçoou a técnica da fotomontagem para reprodução em revistas e jornais, nos quais partes de fotografias com diversas origens eram combinadas, de forma a criticar e satirizar a realidade do governo hitleriano. A junção de pedaços de fotografias e recortes de jornais também foi a base para criar suas peças gráficas. Muitas delas para a revista “Der Dada” que ele mesmo editava em Berlin antes da 2ª Guerra Mundial.


Superman





Fontes:





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