segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carioquice ...


Danielle Spada

      Como todo bom carioca, posso ter nascido em qualquer parte. Nascida dois terços no Rio e outro terço em Minas, Ceará, Bahia, Espírito Santo e São Paulo como já dizia Millôr Fernandes. Sou uma mistura tão rica e tão livre que por mais que me prendam a vida ainda é leve e colorida porque faço parte desse jeito carioca de ser.
     Sabemos que tristezas não pagam dívidas e que a vida deve ser vivida aqui e agora. Carioca é um estado de espírito, é uma filosofia de vida. Pra nós tudo acaba dando certo. Com jeitinho descobrimos um “macete” e improvisamos. Sempre chegamos lá, porque Deus é brasileiro — e sendo assim, muito possivelmente carioca, como coloca Fernando Sabino.
      Gostamos do calor, não só do sol das praias, mas do calor humano que nos faz sermos amigos de infância apenas num segundo encontro. Nossas relações são pessoais, basta ver o cumprimento de conhecidos na rua. Uma verdadeira festa, agarrões, tapas nas costas, gritinhos, dependendo da intimidade, até pegar no colo ‘tá valendo’.  Os encontros são sempre imprevistos ‘a gente se vê por ai’, ‘quando puder eu apareço’. Os compromissos de hora marcada são mera formalidade de boa educação, da boca para fora porque na verdade nos encontramos em qualquer lugar sem marcar e sempre ‘rola’ um bate-papo.
      ‘Olha só’..., basta abrir a boca pra começar a conversa, o tal bate-papo, que o carioca pode ser facilmente identificado. Ao contrário do que muitos pensam começar o assunto com ‘olha só’ não é ser ‘marrento’ é apenas um jeito de falar todo nosso. Quando usamos ‘a gente’, [forma popular de se referir a primeira pessoa do plural: nós], não é porque não sabemos, mas porque se refere à gente, muita gente. Tanta gente que não se sabe ao certo quantos é, e mesmo assim ‘sempre cabe mais um’, ‘a casa é nossa’, ‘tamo junto e misturado’. Podemos ainda analisar a palavra agente, vemos que ela se refere ao que age, que exerce alguma ação; que produz algum efeito. Deve ser daí que tiramos ‘a gente’, porque estamos sempre em movimento. Nos mexemos o tempo todo pelas ruas, praias, sem falar nos corpos embalados pela música, pelo samba, pelo choro’ . Tudo isso tem relação de estar com o outro, de estar com gente, de falar com gente.
      E por falar em falar... fala séééério como falamos... [viu como falamos?] Só não vale cutucar’ hein, mas esse também é mais um jeito carioca de ser. ‘só no cutuque’.
     Gostamos de sair de casa, e não precisa ter planejado nada para isso. Sempre encontramos alguém nas ruas, esquinas, botecos. Essa gente [a gente] que é carioca, apaixonada e é feliz.
      Saímos de havaianas e cabelo molhado seja para comer biscoito Globo na praia, ou para ir ao shopping. E se o celular tocar e o pedido ‘passa aqui em casa’ for feito, iremos assim mesmo, sem constrangimento. Brincamos, rimos e jogamos.
      Adoramos jogar. Jogamos ‘purinha’, ‘no bicho’ (que é contravenção), e sem falar no futebol, que é paixão nacional, além das cariocas é claro. Jogamos futebol no campo, na praia, em qualquer lugar, até com bolinhas de papel no trabalho, porque trabalho ‘pra gente’ é sagrado, mesmo tentando fazer dele um divertimento para aliviar a vida.
      Tratamos todos de meu querido’ e temos amigos em qualquer lugar, até na fila de banco. Bastou um sorriso e certamente saberá toda a vida do sujeito. Isso pode até ser bom porque com nosso jeitinho’, ele pode ser influente em algum lugar que precisemos. Depois é só falar com o zé, lá da fila do banco, que ele quebra essa’ pra você.
      Ser carioca é isso, ter um jeito ‘maneiro’ de falar.  As palavras ganham vida e leveza na nossa boca. Mesmo quando o assunto é sério as piadas não são deixadas de lado. E não vira baderna não. A gente se entende e se respeita.
      Palavrão ‘pra gente’ não é xingamento nem falta de respeito, são expressões. ‘Foda’ que pode ser escrita com PH = Phoda (se for muito foda) pode ser qualificação indicativa de dificuldade ("Aquela ‘parada’ é foda!"). Pode ser também qualificação positiva indicando algo muito bom ("Aquela parada é foda!"). Ou ainda qualificação que indica algo impressionante ("Aquela parada é Phoda!"). Filha da puta é uma  interjeição genérica de descontentamento. Pode ser usada após qualquer acontecimento desagradável e/ou inesperado, mas de for juiz de futebol, aí é xingamento mesmo. Porra é apenas uma interjeição (Porra!).

Em fim Carioquice é a maluquice de ser carioca. 
 Vinícius de Moraes resume bem ser carioca dizendo:
 “... é mais que ter nascido no Rio, é ter aderido à cidade e só se sentir completamente em casa, em meio à sua adorável desorganização. Ser carioca é não gostar de levantar cedo, mesmo tendo obrigatoriamente de fazê-lo; é amar a noite acima de todas as coisas, porque s noite induz ao bate-papo ágil e descontínuo; é trabalhar com um ar de ócio, com um olho no ofício e outro no telefone, de onde sempre pode surgir um programa; é ter como único programa o não tê-lo; é estar mais feliz de caixa baixa do que alta; é dar mais importância ao amor que ao dinheiro. Ser carioca é ser Di Cavalcanti. 
Então o que me resta dizer é que somos bem humorados, rimos da vida, gozamos das tragédias e somos felizes por morar no Rio, bonito por natureza, mas que beleza. Em fevereiro. Tem carnaval. Tenho um Fox e um violão. Sou Flamengo. E tenho um ‘nêgo’ chamado Alexandre.
P.S. Todas as palavras grifadas em azul fazem parte do dicionário Carioquês.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Giancarlo Neri e seu processo criativo

Bate-Papo com Giancarlo Neri sobre seu processo criativo
Nessa sexta-feira (27.01), exatamente às 20h, o italiano Giancarlo Neri acendeu nove mil globos com lâmpadas na Praça Paris, no Rio de Janeiro. A instalação se chama ‘Máximo Silêncio’ e utiliza nove mil lâmpadas de cores diferentes que mudam de intensidade da luz e também de cor, variando de maneira sincronizada.



Máximo Silêncio em Paris foi criada para o Circo Massimo em Roma, por ocasião da Notte Bianca 2007, onde foi visitada por cerca de 300 mil pessoas em cinco dias. A instalação foi remontada em Madri, onde ganhou novo título: Noche en Blanco 2008. Depois de passar por Dubai, por conta da Copa do Mundo nos Emirados Árabes, em 2009, chega ao Rio de Janeiro com uma proposta inédita.
 “Em cada local, é uma situação diferente. A obra interage diretamente com o espaço”, observa o artista.

PROCESSO CRIATIVO:

D. SPADA: Como surgiu a ideia da obra?
NERI: Minha mulher comprou um lustre que não acendia como "deveria" , ela esperava luzes brancas e para surpresa dela acenderam luzes coloridas. Se ela fosse casada com um dentista isso não seria nada, mas como é casada com um artista... deu no que deu.. essa obra fantástica.

D. SPADA: Da ideia a execução, como foi?
NERI: Bem, eu tinha um encontro com o prefeito de Roma para outros assuntos e acabei por mostrar esse projeto e ele disse quegostaria de realizar e me perguntou onde, respondi Circo Maximo. Fizemos, foi um sucesso e depois a instalação andou por aí.

D. SPADA: Como o Brasil apareceu nessa história?
NERI: Não é a primeira vez que faço algo no Brasil, aqui mesmo no Hotel Glória, já fiz uma interferência. Mas o instituto Oi Futuro me convidou através dos vídeos que viram e eu vim. Eles queriam primeiramente que fosse no Jardim de Alah, mas eu escolhi a Praça Paris. Ela tem o que a obra precisa para ser acolhida. Espaço e obra tem que estar em harmonia.

D. SPADA: E o nome da exposição?
NERI: Continuei com a brincadeira com os nomes e o lugar... o lugar é realmente importante no meu trabalho.
Máximo Silêncio por causa do lugar Circo Máximo e Máximo Silêncio em Paris por causa da Praça Paris.

D. SPADA: Todos ao verem a exposição pela mídia pensam que ao chegar aqui terão acesso às bolas colorida de forma a passarem por elas, entrarem de fato no meio delas. Por que isso não é permitido?
NERI: Sim, todos falam isso e até me pedem para entrar, mas... uma pessoa na obra não faz muita diferença,no entanto, muitas pessoas mudam a obra... o campo visual muda e o silêncio não existe mais.
Aqui no Brasil, as pessoas são mais educadas para esse tipo de obra, em Roma tínhamos que ficar atentos pois não respeitavam a corda. Os brasileiros são ótimos.

D. SPADA: E a aquisição do Material?
NERI: Compramos na China...rsrs


Curtam um pouquinho do trabalho duro do artista.